É preciso nostalgia para apreciar o trabalho do TELESONIC, uma espécie de banda de um homem só capitaneada por Kleber Martins, um dos fundadores do Suzana Flag. Não falo aqui daquele sentimento babaca de, na impossibilidade de ser relevante no presente, se apegar as glórias do passado e refutar qualquer possibilidade de mudança. Quando falo de nostalgia falo de um sentimento vago, até meio inclassificável, pequenos fragmentos sensoriais que emergem aqui e ali quando menos se espera. Canções de Bolso, disco de estréia do TELESONIC, é um disco sobre nostalgia e perda. Perda da inocência e dos sonhos da juventude. Nostalgia de um tempo onde as coisas eram menos complicadas.
Trata-se de música sobre não ter para onde ir numa tarde de calor, sobre olhar o céu através da janela do quarto, sobre fumar um baseado com os amigos e inventar mil soluções para mudar o mundo. Música sobre a primeira namorada, sobre ficar de bobeira com a turma da rua, sobre gazetear aula e ficar a olhar os raios de sol sobre os edifícios enquanto se anda pela cidade e sobre as primeiras aventuras adolescentes. Música de quem experimentou, ou ainda experimenta todas as inseguranças, crises e alegrias dos ritos de passagem para a vida adulta.
Mas ao invés de purgar as suas angústias através do rock, na catarse de baterias e guitarras sujas e distorcidas, Kleber optou por uma solidão quase zen. Um estado de contemplação de onde emergem belas melodias, dedilhados de violão e letras intimistas, que dialogam com o mundo através da esperança do autor de que os seus sonhos não estejam perdidos de vez. Talvez por isso o som do TELESONIC não seja tão pesado quanto o de bandas como Suzana Flag, Turbo e Johny Rock Star, os seus companheiros da nova geração do rock paraense.
Difícil falar sobre isso e não cair no ridículo. Há quem tente e dê com os burros n’água, como as bandas da recente onda emo ou os grupos paraenses que imitam (mal) o estilo poético dos Los Hermanos e não conseguem ir além do próprio umbigo. E é esse apelo sentimental, que universaliza as angústias tão particulares de cada um de nós, que faz com que o TELESONIC estabeleça esse diálogo poético de maneira tão eficaz.
Vai ver é porque Kleber Martins já passou dos 30 e talvez tenha conseguido conciliar sua própria maturidade com essa coisa essencialmente adolescente e ingênua que é o rock’n’roll. Quisesse ele posar de garoto angustiado e insatisfeito contra o Sistema, é bem provável que não conseguisse convencer ninguém.
Mas seu trunfo está justamente em encarar a adolescência, em retrospecto, tentando buscar do passado as resposta para o que deu errado nos dias de hoje. Sem, é claro, abrir mão da esperança de que o futuro ainda é como era antigamente. Seja em tardes perdidas entre o tédio e a falta do que fazer, seja nas crises da vida adulta, para Kleber a música pop continua sendo o maior remédio contras as dores do mundo. Em qualquer tempo, em qualquer situação.
*Por: Vladimir Cunha (Jornalista)
Baixe aqui o álbum "Canções de Bolso"
Trata-se de música sobre não ter para onde ir numa tarde de calor, sobre olhar o céu através da janela do quarto, sobre fumar um baseado com os amigos e inventar mil soluções para mudar o mundo. Música sobre a primeira namorada, sobre ficar de bobeira com a turma da rua, sobre gazetear aula e ficar a olhar os raios de sol sobre os edifícios enquanto se anda pela cidade e sobre as primeiras aventuras adolescentes. Música de quem experimentou, ou ainda experimenta todas as inseguranças, crises e alegrias dos ritos de passagem para a vida adulta.
Mas ao invés de purgar as suas angústias através do rock, na catarse de baterias e guitarras sujas e distorcidas, Kleber optou por uma solidão quase zen. Um estado de contemplação de onde emergem belas melodias, dedilhados de violão e letras intimistas, que dialogam com o mundo através da esperança do autor de que os seus sonhos não estejam perdidos de vez. Talvez por isso o som do TELESONIC não seja tão pesado quanto o de bandas como Suzana Flag, Turbo e Johny Rock Star, os seus companheiros da nova geração do rock paraense.
Difícil falar sobre isso e não cair no ridículo. Há quem tente e dê com os burros n’água, como as bandas da recente onda emo ou os grupos paraenses que imitam (mal) o estilo poético dos Los Hermanos e não conseguem ir além do próprio umbigo. E é esse apelo sentimental, que universaliza as angústias tão particulares de cada um de nós, que faz com que o TELESONIC estabeleça esse diálogo poético de maneira tão eficaz.
Vai ver é porque Kleber Martins já passou dos 30 e talvez tenha conseguido conciliar sua própria maturidade com essa coisa essencialmente adolescente e ingênua que é o rock’n’roll. Quisesse ele posar de garoto angustiado e insatisfeito contra o Sistema, é bem provável que não conseguisse convencer ninguém.
Mas seu trunfo está justamente em encarar a adolescência, em retrospecto, tentando buscar do passado as resposta para o que deu errado nos dias de hoje. Sem, é claro, abrir mão da esperança de que o futuro ainda é como era antigamente. Seja em tardes perdidas entre o tédio e a falta do que fazer, seja nas crises da vida adulta, para Kleber a música pop continua sendo o maior remédio contras as dores do mundo. Em qualquer tempo, em qualquer situação.
*Por: Vladimir Cunha (Jornalista)
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